Canon de Pachelbel’s na novela A Vida da Gente

Cena de A Vida da GenteOntem ouvi esta maravilhosa música tocada com violino na novela “A Vida da Gente”, na cena em que Suzana lê o livro de Clarice Lispector que Renato acabara de presenteá-la.

Não sei se foi a primeira vez que tocou, mas foi a primeira vez que ouvi em “A Vida da Gente”.

Mais uma grata surpresa com esta novela. A melhor entre as que a Globo está apresentando no momento. Digna do horário nobre, porém renegada ao horário pós-Malhação.

A Globo deveria ter arriscado mais com a autota e ter-lhe dado um espaço mais adequado.

A música é “Pachelbel’s Canon”. Mas existem algumas variações no nome, como ” “Pachelbel’s Canon in D”.

Ouça a versão que tocou na novela, no YouTube

Também existem variações da música. Talvez a mais popular seja uma versão interpretada em 2005 por um sul-coreano chamado Jeong-Hyun Lim (Funtwo) que postou sua performance no YouTube e foi um dos vídeos mais assistidos. Aliás, foi por causa deste vídeo que eu conheci este clássico dos violinos.

O livro é “Água Viva” e o trecho em que Clarice fala das flores é este:

“Agora vou falar da dolencia das flores para sentir mais a ordem do que existe.

Antes te dou com prazer o néctar, suco doce que muitas flores contém e que os insetos buscam com avidez.

Pistilo é o orgão feminino da flor que geralmente ocupa o centro e contém o rudimento da semente.

Pólen é pó fecundante produzido nos estames e contido nas anteras.

Estame é o orgão masculino da flor.É composto por estilete e pela antera na parte inferior contornando o pistilo.

Fecundação é a união de dois elementos de geração – masculino e feminino – da qual resulta o fruto fértil.
“E plantou Javé Deus um jardim no Éden que fica no Oriente e colocou nele o homem que formara” (Gen.11-
Quero pintar uma rosa.

Rosa é flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta alegria de se ter dado. Seu perfume é mistério doido. Quando profundamente aspirada toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. O modo de ela se abrir em mulher é belíssimo. As pétalas tem gosto bom na boca – é só experimentar. Mas a rosa não é it. É ela. As encarnadas são de grande sensualidade. As brancas são a paz do Deus. É muito raro encontrar na casa de flores rosas brancas. As amarelas são de um alarme alegre. As cor de rosa são em geral mais carnudas e tem a cor por excelência. As alaranjadas são produto de enxerto e são sexualmente atraentes.

Preste atenção e é um favor: estou convidando voce a mudar-se para um reino novo.

Já o cravo tem uma agressividade que vem de certa iritação. São ásperas e arrebitadas as pontas de suas pétalas. O perfume do cravo é de algum modo mortal. Os cravos vermelhos berram em violenta beleza.
Os brancos lembram o caixão de criança defunta: o cheiro então se torna pungente e a gente desvia a cabeça para o lado com horror. Como transplantar o cravo para a tela?

O girassol é o grande filho do sol. Tanto que sabe virar sua enorme corola para o lado de quem o criou. Não importa se é pai ou mãe . Não sei. Será o girassol flor feminina ou masculina? Acho que é masculina.

A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda. Dizem que se esconde por modéstia. Não é. Esconde-se para poder captar o próprio segredo. Seu quase-não-perfume é glória abafada mas exige da gente que o busque. Não grita nunca seu perume.Violeta diz levezas que não se podem dizer.

A sempre-viva é sempre morta. Sua secura tende à eternidade. O nome em grego quer dizer: sol de ouro.

A margarida é florzinha alegre. É simples e à tona da pele. Só tem uma camada de pétalas. O centro é uma brincadeira infantil. A formosa orquídea é exquise e antipática. Não é expontânea. Requer redoma. Mas é mulher esplendorosa e isto não se pode negar. Também não se pode negar que é nobre porque é epífita. Epífitas nascem sobre outras plantas sem contudo tirar delas a nutrição. Estava mentindo quando disse que era antipática.

Adoro orquídeas. Já nascem artificiais, já nascem arte.

Tulipa só é tulipa na Holanda. Uma única tulipa simplesmente não é. Precisa de campo aberto para ser.
Flor dos trigais só dá no meio do trigo. Na sua humildade tem a ousadia de aparecer em diversas formas e cores. A flor do trigal é bíblica. Nos presépios da Espanha não se separa os ramos de trigo. É um pequeno coração batendo.

Mas angélica é perigosa. Tem perfume de capela. Traz êxtase.Lembra a hóstia. Muitos tem vontade de come-la e encher a boca com o intenso cheiro sagrado.

O jasmim é dos namorados. Dá vontade de por reticências agora. Eles andam de mãos dadas, balançando os braços, e se dão beijos suaves ao quase som odorante do jardim.

Estrelícia é masculina por excelência. Tem uma agressividade de amor e de sadio orgulho. Parece ter crista de galo e o seu canto. Só que não espera pela aurora. A violência de tua beleza.

Dama-da-noite tem perfume de lua cheia. É fantasmagórica e um pouco assustadora e é para quem ama o perigo. Só sai de noite com seu cheiro tonteador. Dama-da-noite é silente.

E também da esquina deserta e em trevas e dos jardins de casas de luzes apagadas e janelas fechadas.
É perigosíssima: é um assobio no escuro, o que ninguém aguenta. Mas eu aguento porque amo o perigo. Quanto à suculenta flor de cáctus, é grande e cheirosa e de cor brilhante. É a vingança sumarenta que faz a planta desértica. É o explendor nascendo da esterelidade despótica.
Estou com preguiça de falar da edelvais. É que se encontra à altura de tres mil e quatrocentros metros de altitude. É branca e lanosa. Raramente alcançável: é a aspiração.

Gerânio é flor de canteiro de janela. Encontra-se em São Paulo no bairro do Grajaú e na Suiça.

Vitória-régia está no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Enorme até quase dois metros de diametro. Aquáticas, é de se morrer delas. Elas são o amazônico dinossauro das flores. Espalham grande tranquilidade.

A um tempo majestosas e simples. E apesar de viverem no nível das águas elas dão sombras. Isto que estou te escrevendo é em latim:de natura florum. Depois te mostrarei o meu estudo já transformado em desenho linear.

O crisântemo é de alegria profunda. Fala através da cor e do despenteado. É flor que descabeladamente controla a própria selvageria.

Acho que vou ter que pedir licença para morrer. Mas não posso, é tarde demais. Ouvi o Pássaro de Fogo – e afoguei-me inteira.

Tenho que interromper porque – eu não disse? eu não disse que um dia ia me acontecer uma coisa? Pois aconteceu agora mesmo.”


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1 comentário

    • alexsandra em 24 de julho de 2012 às 19:41
    • Responder

    oi adoro ve esa novela

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